MINISTÉRIO RENASEM SALVADOR BAHIA - RCC

Sejam Bem-Vindos! "Fazemos parte do Ministério de Seminaristas que comungam do carisma da RCC e juntos nos unimos através do retiro RENASEM para orarmos, reavivarmos a nossa fé, vocação e vivermos este carisma - Em particular, somos do Estado da Bahia e desejamos chegar ao coração das Dioceses do país com a nossa fraternidade e oração vivendo intensamente o processo formativo em nossos seminários".

sexta-feira, abril 28, 2006

PALAVRA DE VIDA

“Onde é que te escondeste, amado?”

Onde é que te escondeste,
Amado, e me deixaste com gemido?
Como cervo fugiste,
Havendo-me ferido;
Saí, por ti clamando, e eras já ido.
Por: Elton Santana

A Igreja, ao longo de sua história, sempre contou com a presença dos místicos, homens e mulheres do mistério, que sempre afirmaram através de suas doutrinas espirituais que o caminho da santidade é marcado por uma vida extremamente humana e divina. São João da Cruz, místico espanhol, proclamou com toda sua força que é possível, ainda nesta vida, atingir um grau de união espiritual com Deus, na qual haverá apenas uma vontade: a de Deus e assim poderemos dizer com o apóstolo: “já não sou que vivo, senão Deus em mim”[i].
Vejamos, então, o primeiro degrau espiritual pelo qual a alma deve subir para unir-se a Deus.
O início da vida espiritual é marcado por um profundo desejo de Deus que faz com que a alma renuncie a todas as coisas para encontrar àquele a que seu coração mais ama, mas qual não é a sua surpresa: logo que o encontra ele foge como cervo* veloz e a deixa sem nada. Assim é a vida dos que buscam a Deus, renunciam a tudo e Deus se desvela e em seguida re-vela-se novamente.
Este é o ponto crucial deste degrau espiritual: o sofrimento da alma que deixando todas as coisas por causa do amado vê-se sem deleite em Deus, ou seja, ela fica sem os bens da terra e sem Deus não encontrando apoio em nada, ficando suspensa entre o céu e a terra. Por isso é que a alma estando ferida pela ausência grita: “onde é que te escondeste, amado, e me deixaste com gemido?”[ii].
Aqui, nos interpela um questionamento acerca desta atitude do amado. Por que Deus faz isto com a alma? Por que a faz sofrer? Bem, ainda que não soubéssemos responder a esta pergunta, sabemos que certamente esta atitude de Deus é uma decisão de amor que visa somente o bem daquele que o busca, mas, além disso, o santo doutor, afirma que este é um sofrimento purgativo e depurador que nos prepara para a clara visão, pois os nossos olhos são deficientes e não conseguem, ainda, olhar diretamente para a luz do sol.
Para não me alongar muito, quero dar uma palavra de alento aos que se encontram neste degrau, então peço que escutem com atenção este segredo que quero contar-lhes ao pé do ouvido: ...após a cruz, está reservado para nós, a glória de Deus. E se este sofrimento é grande aos nossos olhos muito maior é a “glória que Deus tem reservado para aqueles que o amam”. A alma que chega a este degrau, se enche dessa certeza encontrando forças para perseverar na oração e logo compreende que só aquele que causou tamanha dor e ferida de morte pode curar a alma enamorada e é por isso que saímos clamando e o procuramos de todas as formas, pois entendemos que “a vida sem Deus são mil mortes”[iii].
Não desanimemos na nossa caminhada, muito pelo contrário busquemos aquele que nos fere a cada dia, pois ele não nos fere senão para curar-nos e não nos mata senão para dar-nos a vida[iv] e vida em plenitude.
* O cervo é um animal solitário que foge as companhias e, também, é conhecido pela rapidez em esconder-se e manifestar-se.


[ii] DA CRUZ, São João. Obras completas – Cântico espiritual. Vozes, 7ª edição, Petrópolis-RJ, pp.30, 2002.

[iii] DA CRUZ, São João. Obras completas – Poesias. Vozes, 7ª edição, Petrópolis-RJ, pp.40, 2002.

[iv] DA CRUZ, São João. Obras completas – Chama viva de amor. Vozes, 7ª edição, Petrópolis-RJ, pp.860, 2002.
Elton Santana é seminarista da Arquidiocese de São Salvador - BA - Seminário Central São João Maria Vianney

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